quarta-feira, 29 de maio de 2013

Exposiçao colectiva EROS e Arte, Fabrica Braço de Prata, Lisboa


PARTICIPO NA EXPO COLECTIVA QUE ARRANCA DIA5 DE JUNHO 2013, PELAS 19H, NA
FABRICA BRAçO DE PRATA EM LISBOA

a seguir

FESTAAAAAAAAAAAA!



       

"Eros é ambiguidade, o não acabado, indefinido, devir infinito, ser e não ser, sobretudo ser na pele de outro que não eu, a possibilidade de umtransformismo, de um travestismo, uma adolescência sem fim, o jogo irresponsável e irrenunciável de ser sempre criança num mundo que nos quer adultos. Uma adolescência dos sentidos, do amor que aperto com força contra mim e que não quero deixar ir.
Pego no pastel a óleo que ali está para construir as máscaras de animais que cobrem em parte algumas personagens minhas. Escondem o olhar. O lápis segue a linha de corpos andróginos, não mais (ainda, já) homens, não (ainda, já) mais mulher.
Somos feitos de camadas e as máscaras são apenas o evidente testemunho dos nossos esconderijos e segredos. Coisa de criança…" Simona Accattatis

A Geografia do Caos.

Ecoline e inchiostro di china, Matita, Penna rossa e blu, Penna rossa e nera, inchiostro di china e matite, Matite colorate, Acquarelli, tela e pennarello, Carboncino e... e traduzindo para português, é a grande salganhada. Ou la grande abbuffata, a grande farra, já que estamos com uma italiana. Mas aqui a desordem dos elementos é simpática. O tal caos organizado que os atarefados quando produzem, deixam em cima da mesa de trabalho e que os maníacos da ordem e da disciplina teimam em alcunhar de lixo, certamente da inveja de se saberem nada saberem do auto domínio característico do produtor do caos. Da manta de retalhos que a Itália sempre foi, e nem me refiro ao universo político actual cheio de tanto vazio, mas à sua multiplicidade cultural, herança histórica, a riqueza do palato, a arte da culinária, o cinema de Rossellini a Argento, as mulheres de voluptousas formas e coriaceas de cabeça... eeeuh... scuzi, estou agora a dispersar-me. Voltando à manta de retalhos, à qual acrescento o fenómeno do profundo orgulho regionalista provocado talvez por ódios do passado a desculpa dos acidentes geográficos, vem-me à ideia Andrea Pazienza, um genial desenhador que viveu, equilibrou-se e se desequilibrou entre duas cidades - Montepulciano e Bolonha. Simona Accattatis, com o seu caos organizado fez-me recordar Pazienza que, sempre que realizava de banda desenhada era como que um one-man-band, um polvo cujos vários tentáculos recriavam um estilo diferente, quase opostos, a habitarem lado a lado. Pazienza gerava-me imensa confusão, quando o descobri na revista paulista Animal, um traço que parecia vindo da escola underground americana, mais um outro que mais se assemelhava ao redondinho juvenil franco-belga, a par de outro que lembrava moebius... e tudo sobre um cenário nocturno mascarado de cores psicadélicas. Demorou-me, mas hoje reconheço nesta manta de retalhos um exercício não de recuperação ou homenagem ao outro, mas uma entrega aos sentidos - que, como na vida, são gerados por experimentações, viagens, entregas. Mesmo que isso muito incomode aos arautos da ordem e disciplina. Paciência...

Nuno Saraiva Lisboa, 3 de Fevereiro de 2010